As Quatro Faces de Jesus Cristo: Uma Visão Cristocêntrica e Profética
A Bíblia apresenta Jesus Cristo de formas multifacetadas, revelando sua natureza e missão através de imagens simbólicas. Entre as diversas perspectivas, as “quatro faces” de Cristo são particularmente destacadas como representações de suas características fundamentais: o Leão, o Bezerro (Boi), o Homem e a Águia.
Esses símbolos, encontrados nas visões proféticas de Ezequiel e no Apocalipse de João, não apenas retratam aspectos da natureza divina e humana de Jesus, mas também refletem o cumprimento de sua missão redentora.
O Que são as Quatro Faces em Ezequiel e nos Evangelhos?
A visão das quatro faces surge inicialmente no livro de Ezequiel, onde o profeta descreve “quatro criaturas viventes” que tinham “quatro rostos e quatro asas” (Ezequiel 1:5-6). Essas criaturas, que aparecem novamente no Apocalipse, são vistas ao redor do trono de Deus e representam, conforme a tradição cristã, os quatro evangelhos e aspectos complementares de Cristo.
Ao longo da história da igreja, teólogos como Irineu, Orígenes e Agostinho interpretaram essas faces como símbolos que abrangem as várias manifestações e missões de Cristo. A natureza de cada uma delas reflete não apenas uma característica isolada, mas um aspecto específico do relacionamento de Cristo com a humanidade e com a criação.
As Quatro Faces de “Deus” – Os Quatros Seres Viventes
O Leão: A Soberania e a Realeza de Jesus Cristo
A primeira face, a do Leão, é uma representação direta da realeza e autoridade de Cristo. O leão é um símbolo de força, poder e domínio, e é frequentemente associado a Cristo como o “Leão da tribo de Judá” (Apocalipse 5:5). No Evangelho de Mateus, por exemplo, Jesus é apresentado como o “Rei dos Judeus”, o Messias prometido que vem cumprir as profecias do Antigo Testamento. A linhagem davídica, à qual Jesus pertence, reforça essa realeza messiânica. O leão simboliza a autoridade de Cristo como rei e soberano sobre toda a criação, manifestando-se como aquele que tem o poder de julgar e governar com justiça e retidão.
Essa autoridade de Cristo é, no entanto, exercida com um equilíbrio perfeito entre justiça e misericórdia. Enquanto leões são conhecidos por sua ferocidade, Jesus, em sua realeza, é descrito como um rei humilde, que, em vez de esmagar seus inimigos, oferece-lhes redenção. Como Isaías profetizou, “sobre seus ombros está o governo, e ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Cristo é, assim, o Leão que vem para estabelecer o Reino de Deus em justiça, mas também em compaixão.
O Bezerro (ou Boi): A Natureza de Servo e Sacrifício de Cristo
A segunda face, a do Bezerro, também descrita como a do Boi, representa a humildade e o serviço de Cristo. O boi é um animal de carga e sacrifício, e sua presença sugere a disposição de Cristo para servir e se sacrificar em prol da humanidade. No Evangelho de Marcos, Jesus é retratado como o Servo perfeito, alguém que não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos (Marcos 10:45). Esta face de Cristo nos lembra que o poder e a glória de Deus se manifestam de maneira singular na auto-entrega e no sofrimento voluntário.
O simbolismo do Bezerro aponta para o sacrifício de Cristo como o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo (João 1:29). Através de sua morte na cruz, Jesus cumpre a função sacerdotal e sacrificial, oferecendo-se como expiação pelos pecados. A figura do boi nos leva a uma compreensão mais profunda da redenção: Cristo, o Servo Sofredor de Isaías 53, não apenas carrega as dores e iniquidades da humanidade, mas o faz com a completa entrega de quem ama sem limites. Assim, essa face nos relembra que a verdadeira liderança cristã está ancorada no serviço e no sacrifício por amor.
O Homem: A Humanidade e a Empatia de Jesus Cristo
A terceira face é a do Homem, que simboliza a plena humanidade de Jesus. Em Lucas, Jesus é apresentado de forma única como o “Filho do Homem”, um título que enfatiza sua identificação com a condição humana e sua encarnação. Esse título não apenas confirma sua natureza humana, mas também o destaca como o mediador entre Deus e a humanidade. Em sua humanidade, Jesus experimentou cansaço, fome, tristeza e alegria, sendo capaz de se compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi tentado em tudo, assim como nós, mas sem pecado (Hebreus 4:15).
A face do Homem nos lembra que Jesus compreende a complexidade de nossas vidas e limitações. Ele, que assumiu carne e habitou entre nós (João 1:14), entende nossas dores e lutas. Ao nos reconciliar com Deus, Cristo nos eleva e nos convida a viver uma nova vida em conformidade com sua própria humanidade perfeita. Como Paulo expressa, “nós todos, com rosto descoberto, refletimos a glória do Senhor, sendo transformados na sua própria imagem” (2 Coríntios 3:18). Portanto, o Filho do Homem não só nos representa diante de Deus, mas também nos mostra a humanidade redimida e restaurada à imagem divina.
A Águia: A Divindade e a Perspectiva Celestial de Jesus Cristo
A quarta face, a da Águia, é símbolo da divindade e da natureza espiritual de Jesus. A águia, com sua habilidade de voar alto e enxergar com clareza, representa a visão divina, a transcendência e a majestade de Cristo. No Evangelho de João, Cristo é apresentado como o Verbo eterno, “que estava com Deus e era Deus” (João 1:1). Ele é o Logos, o Filho eterno que revela o Pai e faz conhecer as realidades celestiais.
A face da Águia também aponta para a ressurreição e a ascensão de Cristo, que venceu a morte e retornou ao Pai. Através dela, somos lembrados de que, embora Cristo tenha vivido entre os homens, sua origem e destino são celestiais. Ele nos oferece a visão da eternidade e nos convida a buscarmos as coisas que são do alto (Colossenses 3:1-2). Em Cristo, temos acesso às coisas de Deus, e pela fé, nossa visão é elevada acima das limitações terrenas para contemplar a eternidade.
As 04 Faces de Cristo e os Evangelhos
Na tradição cristã, os quatro animais vistos por Ezequiel na Bíblia são símbolos proféticos dos quatro evangelhos:
Leão: Livro de Mateus – Representa Cristo como Rei, foi escrito para os Judeus – Jesus é o Leão da Tribo de Judá.
Boi/Touro: Livro de Marcos – Representa Cristo como o servo sofredor, aquele que serve por amor de muitos, foi escrito para os romanos – Jesus é o Servo de Deus.
Homem: Livro de Lucas – Representa a humanidade de Cristo e sua encarnação, o livro foi escrito para os Gregos (Gentios) – Jesus é o “Filho do Homem”.
Águia: Livro de João – Representa a divindade de Cristo e seu poderio, direcionado à Igreja – Jesus é “O Verbo de Deus”, O Logos Divino.
Segundo os evangelhos, as quatros facetas de Cristo é a manifestação de sua totalidade e os quatro livros, foram direcionados aos 04 povos existentes nos tempos apostólicos.
O Impacto das Quatro Faces na Vida Cristã
A compreensão das quatro faces de Jesus Cristo transforma profundamente a maneira como nos relacionamos com ele e aplicamos seus ensinamentos em nossas vidas.
Como Leão, somos chamados a reconhecer sua autoridade sobre nós, sujeitando nossos desejos e planos à sua soberania.
Como Bezerro, somos desafiados a abraçar uma vida de serviço e sacrifício pelos outros, imitando seu exemplo.
A face do Homem nos convida a encontrar conforto em sua empatia e a seguir seu exemplo de humanidade perfeita.
Finalmente, como Águia, somos inspirados a elevar nossa perspectiva, vivendo com a esperança da eternidade e a expectativa de seu retorno.
Dessa forma, cada uma das faces revela uma faceta essencial de sua obra e caráter, nos orientando a viver sob a luz da soberania, serviço, empatia e transcendência de Jesus Cristo.
Referências Bibliográficas
Geisler, Norman. Systematic Theology: Volume Two: God, Creation. Minneapolis: Bethany House, 2002.
Aquino, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Paulus, 2001.
Henry, Matthew. Comentário Bíblico de Matthew Henry Completo. Editora CPAD, 2011.
Bruce, F.F. The Gospel of John: A Commentary. Grand Rapids: Eerdmans, 1983.
Carson, D. A. The Gospel According to John. Grand Rapids: Eerdmans, 1991.
Jorge A. Ferreira
Cristão Protestante, Casado , pai de quatro filhos, Bacharel em Teologia, Licenciando em Filosofia pela Universidade Paulista (UNIP) e Diretor e Palestrante do Seminário À Luz da Bíblia.