A Existência de Deus e os Argumentos Filosóficos
A questão da existência de Deus é uma das mais fundamentais e perenes indagações da filosofia e da teologia. Durante séculos, filósofos e teólogos têm buscado formular argumentos racionais que possam demonstrar ou, ao menos, oferecer uma base sólida para a crença em Deus.
Entendendo a Existência de Deus e os Argumentos Filosóficos: Uma Análise Clássica e Teológica
Neste artigo, exploraremos os principais argumentos clássicos para a existência de Deus – os argumentos cosmológico, teleológico, moral e ontológico – com reflexões e contribuições de gigantes do pensamento cristão, como Agostinho de Hipona e o grande Tomás de Aquino.
Essas reflexões não apenas fundamentam a razão da fé cristã, mas também destacam a compatibilidade entre fé e razão.
O Argumento Cosmológico
O argumento cosmológico parte da ideia de causa e efeito para concluir que deve haver uma Causa Primeira ou Necessária que explique a existência de tudo o que há. Esse argumento se baseia na observação de que tudo o que existe tem uma causa e, portanto, deve haver uma causa original que não seja causada por nada além de si mesma.
Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, formulou a versão mais conhecida desse argumento em suas “Cinco Vias”. A primeira via, o argumento do movimento, afirma que tudo o que se move é movido por algo, e não pode haver uma regressão infinita de motores. Logo, deve existir um Motor Imóvel, que é Deus. A segunda via, o argumento da causalidade eficiente, postula que toda causa tem uma causa anterior, mas essa sequência não pode retroceder ao infinito; deve haver uma Causa Primeira.
“Ora, não é possível proceder ao infinito na série das causas eficientes, pois, em tal caso, não haveria uma primeira causa eficiente, e, consequentemente, nenhuma outra causa eficiente, nem efeito algum.” (Tomás de Aquino, Suma Teológica)
Reflexão Agostiniana
Já Agostinho, em sua obra Confissões, argumenta que a existência de Deus é evidente na própria ordem da criação. Para Agostinho, Deus é a realidade fundamental e inalterável que sustenta tudo o que existe. Ele escreve: “Fizeste-nos para Ti, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em Ti” (Confissões, I, 1). Para Agostinho, a busca por causas e significados leva inevitavelmente a Deus.
O Argumento Teleológico
O argumento teleológico, também conhecido como argumento do desígnio, parte da ordem, complexidade e propósito evidentes no universo para concluir que deve haver um Designer Inteligente. Esse argumento observa que a natureza apresenta uma harmonia e complexidade que dificilmente poderiam ser fruto do acaso.
Tomás de Aquino, em sua quinta via, descreve como os objetos naturais, que carecem de inteligência, operam em direção a fins específicos. Ele conclui que isso só é possível se houver um ser inteligente que ordena todas as coisas – e esse ser é Deus.
A Reflexão sobre o Design
O salmista ecoa essa visão ao afirmar: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos” (Salmo 19:1). O apóstolo Paulo também reforça esse argumento em Romanos 1:20: “Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas.”
O Argumento Moral
O argumento moral propõe que a existência de uma lei moral objetiva implica a existência de um Legislador Moral Supremo. Se todos os seres humanos compartilham uma noção fundamental de certo e errado, deve haver uma fonte transcendente para essa moralidade.
C.S. Lewis, em Cristianismo Puro e Simples, desenvolve esse argumento afirmando que, se há uma lei moral universal, deve haver uma Mente Moral que a estabeleceu. O senso de justiça e injustiça, que todos intuitivamente reconhecem, aponta para um padrão objetivo fora de nós mesmos.
Reflexão Teológica
Tomás de Aquino ensinou que a lei moral natural é um reflexo da lei eterna de Deus. Santo Agostinho também destacou que nossa consciência é uma testemunha da verdade divina inscrita em nossos corações. Como ele diz em De Trinitate: “O homem não pode se afastar da lei eterna, mesmo quando busca negar sua existência.”
O Argumento Ontológico
O argumento ontológico busca provar a existência de Deus com base na própria definição do conceito de Deus. Formulado originalmente por Anselmo de Cantuária, ele parte da ideia de que Deus é o “ser maior do que o qual nada pode ser concebido”. Se Deus existe em nossa mente como a ideia mais perfeita possível, então Ele deve existir na realidade, pois a existência na realidade é maior do que a existência apenas na mente.
Esse argumento foi debatido por filósofos como Tomás de Aquino, que preferiu argumentos baseados na experiência empírica. Contudo, pensadores posteriores como René Descartes e G.W.F. Leibniz retomaram o argumento, destacando seu valor lógico para a teologia.
A Importância dos argumentos da existência de Deus para nossos dias
A busca por Deus através da razão e dos argumentos filosóficos não é apenas uma prática intelectual, mas uma necessidade espiritual. Em um mundo cada vez mais relativista e secularizado, os argumentos para a existência de Deus oferecem uma âncora racional para a fé cristã. Eles demonstram que a fé não é irracional, mas profundamente fundamentada na própria estrutura da realidade.
Nosso Senhor Jesus Cristo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14:6). Conhecer a Deus por meio da razão nos conduz a Cristo, a revelação suprema do Deus que buscamos. A combinação entre fé e razão fortalece os crentes a viverem com confiança, sabendo que sua fé repousa em um Deus real, racional e acessível.
Como Agostinho nos lembra, a mente e o coração devem estar unidos na busca por Deus: “Crê para compreender, compreende para crer.”
* Lembre-se, os argumentos apresentados, não são provas definitivas, no sentido do entendimento do termo das ciências atuais. Até porque, um Deus transcendente não pode ser demonstrado nos termos das teorias materialistas, são argumentos que são compatíveis com a razão e o bom senso.
Deus é! e isso basta!
Referências Bibliográficas
Lewis, C.S. Cristianismo Puro e Simples. Martins Fontes, 2014.
Anselmo de Cantuária. Proslogion. Paulus, 2013.
Mortimer J. Adler. Como provar que Deus existe. Vide Editorial, 2013.
Agostinho, Santo. Confissões. Paulus, 2009.
Aquino, Tomás de. Suma Teológica. Edições Loyola, 2008.
Agostinho, Santo. De Trinitate. Paulus, 1995.
Geisler, Norman. Filosofia Cristã: Questões e Perspectivas. Vida Nova, 2011.
GRUDEM. Teologia Sistemática. 2. ed. Miami, Florida: Vida Nova, 2009.
Jorge A. Ferreira
Cristão Protestante, Casado , pai de quatro filhos, Bacharel em Teologia, Licenciando em Filosofia pela Universidade Paulista (UNIP) e Diretor e Palestrante do Seminário À Luz da Bíblia.